terça-feira, 3 de março de 2015

Capítulo 2 - Os Sentimentos de Catherine

Capítulo 2 - Os Sentimentos de Catherine


As cortinas balançavam ao sabor da brisa de outono no quarto do sótão onde Catherine dormia um sono agitado. O pesadelo de todas as noites desde que viera com a mãe morar na casa Vitoriana estava deixando-a exausta. Ela tentava desesperadamente fugir de algo, mas sempre a alcançavam e a prendiam novamente. Catehrine acordou sobressaltada. Os olhos frios pousaram sem brilho nos móveis de cerejeira espalhados desordenadamente por seu quarto. Ela já os mudara de lugar vezes sem conta. Nunca se sentia satisfeita. Os hematomas nas pernas eram constantes agora, pois sempre trombava com os móveis no escuro. A cama de dossel alta coberta por uma cortina de filó rosa era a preferida por seus joelhos.
Um pensamento a fez bufar de raiva. Hoje seria o maldito dia em que o tal sobrinho de seu padrasto iria chegar para morar com eles. Não o queria ali por um dia quanto mais por um ano inteirinho. Catherine desceu da cama e calçou as pantufas de ursinho. Eram ridículas com aquelas orelhas penduradas, mas esquentavam bem o pé.
 - Será que o desligado de seu padrasto não havia entendido que não queria dividir a família e a casa com um estranho? - Já não tinha deixado claro desde o dia em que o padrasto viera contar a novidade no café-da-manhã que não queria intrusos em sua vida? Ele é claro, a ignorou por completo dizendo que era seu dever abrigar o sobrinho enquanto o irmão viajava a trabalho. O que lhe dava mais raiva era ver que sua mãe concordara com tudo e estava muito entusiasmada com os preparativos para a chegada e estadia do moleque em nossa casa. - Catherine pegou um bibelô de louça com o formato de um anjo e o jogou na parede a sua frente com toda força. Ela não aceitou ajudar a mãe em nada. Sempre estava ocupada estudando ou saindo com os amigos. Se recusava terminantemente a compactuar com aquela loucura. E olha que ela tentou dissuadi-los. Fez até greve de fome, mas desistiu antes que ficasse fraca demais. Nada que fizesse ou dissesse fez com que mudassem de ideia. No final fingiu aceitar o intruso, mas não iria facilitar as coisas para ele. Não mesmo.
Catherine sentiu a presença do moleque antes mesmo que o carro passasse pelo portão. Era uma presença forte, ousada e uma fonte de problemas intermináveis. Caminhou até a janela e o acompanhou com o olhar até que ele percebera sua presença. A atmosfera do ambiente modificara completamente. O ar parecia sólido e eletrizante. Ela se afastou da janela ao ouvir a mãe chamá-la.
Resolveu se esmerar no vestuário. Não apareceria na frente do intruso com desleixo. Vestira um terno de seda rosa com camisa de cambraia branca com babados na gola e uma saia pregueada também rosa que ia até o início dos joelhos. Calçou seu mocassins de couro branco e cobriu as pernas com meias finas cor da pele. O cabelo vermelho caía em cachos pelos ombros.
Ao descer a escada ao lado da mãe Catherine se enfureceu ao perceber o quanto a outra parecia estar feliz com a presença do estranho em sua sala de visitas. Isso fez aumentar ainda mais a sua raiva. Quando os olhos do moleque voltaram-se para ela, Catherine teve que se segurar no corrimão da escada para não cair. Uma leve tontura tomou conta dela que devolveu o olhar chispado de ódio para aquele garoto detestável. Seria inimiga dele. Isso estava bem claro em seu olhar.
Continua...

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