terça-feira, 3 de março de 2015

Capítulo 4 - Colégio Victoria's Queen

Capítulo 4 - Colégio Victoria's Queen


Os primeiros raios de sol incidiram nos olhos de Renan que custou a abri-los. Seu desejo era permanecer embaixo do edredom até o meio-dia, mas seu outro eu, aquele que se recusa a esquecer os compromissos, empurrou-o para fora da cama. Um banho frio era o que precisava. - pensou ele, mas logo desistiu quando viu a chuva fina molhando a vidraça da janela.
- Droga! - reclamou chutando os próprios sapatos enquanto se dirigia ao banheiro contíguo ao seu quarto.
O sistema de aquecimento era à gás, diferente do elétrico que Renan e o pai usavam em seu apartamento em New York. No centro do banheiro uma grande banheira circular branca com pés de mármore negro parecia pedir que a usassem, mas Renan preferiu uma ducha. Aquela banheira lhe dava pensamentos inapropriados para o momento.
Terminado o banho, escovou os dentes e penteou o fartos cabelos castanhos. Voltando ao quarto, pegou o uniforme do colégio, camisa de cambraia branca e calça de linho azul-marinho e blazer da mesma cor da calça. Renan não estava acostumado que cuidassem de suas coisas e lamentou quando pegou os sapatos de couro preto lustrosos. Ficariam enlameados antes de chegar ao colégio. Tanto trabalho desnecessário! - resmungou pegando a mochila e saindo.
Renan trombou com Catherine na escada e quase caíram. Ela o fuzilou com o olhar e saiu pisando duro. Renan segurou-se como pode ao corrimão e massageou o ombro dolorido.
- Belo começo de dia! - falou ele para si mesmo enquanto caminhava até a sala de jantar para tomar seu desjejum.
A mesa estava posta com chá e biscoitos, torradas, ovos, suco de laranja, leite e diversos tipos de pães. Se não ingressasse logo em algum esporte no colégio, Renan perderia a boa forma em um mês.
Seus tios pareciam estar esperando sua chegada, pois nada parecia ter sido tocado. Um olhar para sua prima e Renan percebeu que ainda estava emburrada. Bem vou tentar evitar esbarrar nela novamente. - pensou ele.
- Bom dia! - disse os tios em uníssono.
- Bom dia!
- Espero que tenha dormido bem. Fiquei preocupada que a mudança de ares o deixasse com insônia. - comentou sua tia Ruth.
- Dormi bem sim tia. Não precisa se preocupar.
 - Hoje é seu primeiro dia de aula no Colégio Victória's Queen. - comentou o tio. - É uma excelente instituição de ensino, a melhor da Inglaterra ouso dizer. Sei que vai gostar dela.
 - Vou gostar sim tio. Obrigado. - disse Renan depois de engolir sua torrada com geléia.
 - E quanto a você Cath espero que não seja suspensa logo no primeiro dia. Tente ao menos esperar passar um mês. - disse tia Ruth a minha prima.
 - Mãe! Pare de me humilhar na frente dos outros! não tenho culpa se aquela diretora olhuda não vai com a minha cara! - respondeu Catherine levantando-se. - Já está na hora!
 Renan também se levantou, despediu-se dos tios e seguiu a prima até os jardins onde, para sua surpresa, uma limousine os aguardava. Bem pelo menos não sujaria os sapatos. - pensou Renan, mas por outro lado teria que se sujeitar a sentar próximo à prima e ignorá-la por todo o trajeto até o colégio. Isso seria difícil, pois não podia deixar de admirá-la em seu uniforme de camisa branca, saia azul marinho pregueada até os joelhos, meias brancas e sapatos pretos.
 O uniforme dos alunos possuíam a mesma cor, mas não havia como negar que o feminino tinha seus atrativos. Catherine passou o tempo todo olhando para a janela. Renan estava tão próximo que se levantasse o braço poderia tocar seu cabelo. Madressilva. Era esse o perfume que exalava daqueles anéis cor de fogo. Renan resolveu fazer o mesmo que ela. Pela janela não dava para distinguir muita coisa, pois a chuva aumentara e só podia ver borrões cinza correndo rápido enquanto o veículo rodava pela estrada de terra.
 O carro parou em frente ao que parecia ser uma estupenda mansão vitoriana. Tinha cinco andares e sua extensão era dez vezes maior do que a casa de seus tios. O telhado era vermelho, as janelas de vidro claro, as paredes brancas com archotes pendurados próximo às portas duplas de carvalho que abriam-se para dentro.
 Renan contou seis só na frente do colégio. Parecia um museu ou um castelo de contos de fadas. No lado leste, um pouco ao fundo dava pra distinguir a torre de uma igreja tão alta quanto o colégio. Se não estivesse chovendo tanto, Renan poderia ter se surpreendido ainda mais com os jardins à frente da construção. Só o lago já o deixou estupefato.
 - Só pode ser alucinação. - murmurou ele sem se importar que Catherine o ouvisse. - Vou levar mais de uma semana pra conhecer só a metade desse lugar. Se meus amigos estivessem aqui. Putz! - exclamou enquanto saía do carro.
 Subiram as escadas correndo para não se molharem. Catherine não deu uma única palavra, nem Renan se dispôs a puxar assusto. Estava demais deslumbrado pra se acercar da presença da prima.
 O hall de entrada estava apinhado de alunos. A maioria reunidos em grupos de três a cinco membros riam e falavam alto. Uma escadaria no centro do salão levava aos outros andares. Renan reparou que havia três elevadores no lado esquerdo da entrada e havia uma fila de alunos para utilizá-los. O teto era pintado com afrescos de cavaleiros medievais em luta de lanças e espadas, trajando mantos vermelhos com dourado e deuses de feições austeras lançando magias. Renan ficou tonto. Quando olhou para baixo percebeu que o salão estava quase vazio.
 - Droga! Tenho que correr! - exclamou para si mesmo enquanto procurava a secretaria para pegar seus horários de aula. Quase se perdeu no emaranhado de corredores, mas conseguiu encontrar seu destino depois de alguns minutos. Uma mulher morena e idosa, trajando um terno azul marinho com o símbolo do colégio estampado no lado esquerdo do blazer, duas espadas cruzadas sob um falcão negro o recebeu com um sorriso.
 - Você é novo aqui não? Terceira série? - ele confirmou. - Aqui está seu horário de aula. É melhor correr. O sinal já bateu. - a mulher parecia um robô e Renan sentiu-se incomodado.
 - Obrigado. Quinto andar? Sala 52 B? - perguntou ele para ninguém. Correu para o hall onde ficavam os elevadores e entrou afobado.
 Ao se aproximar da sala de aula hesitou, pois já havia começado. Bateu à porta, pediu licença e entrou. Sentou na primeira carteira vazia que encontrou, atrás de uma menina loirinha e começou a prestar atenção ao que o professor estava dizendo.
 As aulas transcorreram tranquilas. Quando Renan pegou sua mochila e encaminhou-se para a saída, um tufão em forma de uma garota morena de lindos cabelos negros até a cintura, se chocou a ele espalhando cadernos e folhas pra todo lado.
 - Olha o que você fez seu idiota! - gritou a garota tentando recolher seu material. Um grupo de meninos dava risadas e apontava para eles.
 - Perdão. Pode deixar senhorita que eu recolho seu material. - desculpou-se Renan. Ao ouvir sua voz a garota levantou a cabeça e por um momento esqueceu-se de tudo a sua volta. Foi como se tivesse sido sugada para o fundo do mar.
 - Você está se sentindo bem? - perguntou Renan preocupado, pois a garota tinha ficado pálida.
 - Si... sim. Ah... é... obrigada. - gaguejou ela quando Renan entregou-lhe a última folha.
 - Não tem o que agradecer. Fui um completo idiota. Para me redimir peço que aceite almoçar comigo. Tudo por minha conta. - convidou ele oferecendo-lhe seu mais cativante sorriso.
 - Vamos fazer isso direito. - disse ela sorrindo de volta. - Muito prazer! Sou Eloise Dolman e aceito seu convite.
 - Encantado. Sou Renan Gabriel Williams, seu servo milady. - informou ele pegando a mão de Eloise enquanto fazia uma pequena reverência. Isso causou mais uma crise de risos nos alunos que presenciavam a cena. Renan deu o braço a Eloise e caminharam até o restaurante da universidade. Catherine que vira e ouvira tudo do lado de dentro da sala, saiu pisando duro e fuzilando a todo e qualquer ser vivo que cruzasse seu caminho.
 - O que esse idiota pensa que está fazendo? - perguntou para si mesma. - E o que a minha melhor amiga viu nele afinal? Já sei. Vou vigiá-los de longe e ver onde meu "querido" primo pretende chegar com essa palhaçada. - resolveu ela enquanto seguia o casal que não parava de falar e rir um com o outro.
Continua...

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