terça-feira, 3 de março de 2015

Inesperado Amor : Capítulo 1 - Mudanças

Capítulo 1 - Mudanças



As malas estavam prontas, as passagens compradas, o apartamento alugado. Não havia argumento capaz de fazer o pai de Renan voltar atrás na sua determinação em se mudar para a Nova Zelândia. Ao conseguir a tão sonhada promoção em seu trabalho, Pablo, seu pai, iria gerenciar uma empresa de artigos esportivos na Austrália. Renan ia ficar com o tio em Londres. O problema é que Renan vira o tio pela última vez no enterro da mãe quando ele tinha apenas seis anos. Já se foram onze anos desde aquele dia de tristeza. Renan mal se lembrava dele e agora teria que morar em sua casa pelos próximos doze meses.
Seria um martírio. - pensou Renan. Morar numa casa estranha com pessoas praticamente desconhecidas.
- Você ficará bem filho. - disse o pai abraçando-o.
Pai e filho eram muito parecidos. Os dois eram morenos, possuíam cabelos negros e lisos cortados bem curtos. Malhavam na academia diariamente, corriam no parque e nadavam no clube aos fins de semana. Renan raramente ficava doente, pois além de fazer exercícios regulares, ainda mantinha uma alimentação saudável fonte de vitaminas e fibras.Um último adeus e Renan embarcou no avião que o levaria para sua nova vida. Ao chegar a Londres caminhou vagarosamente até o saguão do aeroporto. Teria passado pelo tio sem o reconhecer se ele não tivesse chamado seu nome. Renan esboçou um meio sorriso e apertou a mão estendida pelo tio. Vicente era tão alto quanto o pai de Renan, mas a semelhança não continua. Pablo tem trinta e dois anos e Vicente trinta e nove. O tio tinha cabelos louros e cacheados. Pablo herdou os olhos e o cabelo da mãe.
- Espero que tenha feito uma boa viagem. - disse o tio interrompendo as divagações do sobrinho.
- Fiz sim. - respondeu Renan e acrescentou: - Obrigado.
- Por que agradece? - perguntou o tio confuso.
- O senhor não precisava aceitar-me em sua casa. Eu poderia ficar numa pensão ou república estudantil. - Renan estranhou o sorriso largo do tio, não estava acostumado com isso. O pai quase não sorria e mesmo ele só o fazia em raras ocasiões.
- Não se preocupe rapaz. Não será incômodo algum. Minha esposa Ruth e minha enteada Katherine vão adorar tê-lo em nossa casa. Venha! Elas estão nos esperando para o chá das cinco. Você deve estar azul de fome. - o tio parecia entusiasmado com sua presença e isso o deixou um pouco feliz.Renan quase não comera durante a viagem, mas não se achava preparado para sua primeira refeição com sua nova família.

Fazia frio e ele aconchegou-se mais ao casaco de veludo marrom que o pai lhe comprara no último inverno. Um leve formigamento em sua orelha esquerda estava deixando-o mais nervoso do que o normal. Toda vez que isso acontecia era sinal de que teria problemas pela frente. Por esse motivo não apreciou a vista da janela do carro do tio. Vicente por sua vez nem reparara na mudança de comportamento do sobrinho. Ele falava sem parar sobre o trânsito, a família e a escola onde Renan faria o último ano do Ensino Médio. Pensar em uma nova escola embrulhou o estômago de Renan e o fez suar frio. Infelizmente teria que enfrentar mais essa chateação.
A casa em estilo vitoriano deixou-o com dificuldade de respirar. Nunca imaginara que o tio tivesse condições de morar numa mansão como aquela, mesmo sendo dono de uma das empresas de segurança mais respeitadas de Londres. O portão automático abriu e a primeira impressão de Renan foi a de que estava dentro de um filme medieval. Apenas as câmeras de segurança nas laterais do muro lhe pareceram reais. A fonte em forma de cisne e as estátuas de anjo eram ou pareciam ser de outro tempo. Pedras cinza adornavam as laterais das paredes brancas da casa. As janelas largas possuíam vidros escuros e lisos. Eram nove janelas ao todo. Cinco no andar superior e quatro no térreo. Bougainvilles Amarelos ladeavam a entrada da casa.
Enquanto o tio colocava suas malas no chão e abria a porta, Renan sentiu os cabelos da nuca arrepiarem. Alguém estava olhando para ele atrás das cortinas da janela acima da entrada. Parecia ser o sótão. Não sabia explicar a sensação, mas alguma coisa lhe dizia que nem todos estavam felizes com sua presença.
Seu novo lar era mais impressionante no interior. O piso de madeira corrida estava lustroso. Renan olhou para o teto e se surpreendeu com os afrescos florais. Teve a sensação de que voltara no passado. Nas paredes pintadas de azul claro pendiam tapeçarias com imagens de carruagens, palácios e crianças brincando no bosque. Os estofados brancos e a aparelhagem de TV e som modernos não conseguiam quebrar a elegância vitoriana do ambiente. Uma lareira de mármore negro ocupava toda a parede em frente a porta de entrada. Havia fotos com molduras douradas na prateleira. Renan caminhou até as janelas duplas de vidro escuro que iam do teto ao chão. Os jardins eram os mais belos que vira na vida.
Um barulho o fez voltar e olhar para o topo da escada de mármore branco coberta por um tapete azul marinho. Duas figuras femininas desciam os degraus graciosamente. Sua tia Ruth era a elegância em pessoa em seu macacão de linho bege e seus olhos da cor do céu de um dia de verão. Ela irradiava tranquilidade e beleza. Seus cabelos castanhos cortados à moda Chanel emolduravam o rosto oval. Assim que viu Renan ela veio lhe abraçar e por mais que ele se sentisse constrangido com a demonstração de afeto da tia, ficou também aliviado. Uma vez mais sentiu aquele arrepio na nuca e o formigamento na orelha esquerda estava ficando insuportável. Renan olhou para a enteada de seu tio e recebeu em troca um olhar frio como gelo e cinza como as nuvens numa tempestade. Teve certeza que era ela quem o estava espionando da janela por trás da cortina e isso fez com que trincasse os dentes de raiva. O que aquela fedelha de cabelos cor de fogo tinha contra ele? Nem se conheciam. De uma coisa tinha certeza nunca esqueceria aqueles cabelos e o olhar penetrante. Foi inimizade à primeira vista.
Continua...

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