terça-feira, 3 de março de 2015

Capítulo 7 - Brincando com Fogo

Capítulo 7 - Brincando com Fogo


Por mais que Renan perguntasse quem era a pessoa que ferira Catherine,  ela desconversava e dizia que não era ninguém.  As feridas nas mãos, Catherine as fizera. Quem em sã consciência iria se ferir daquele jeito?  Será que era loucura?  Renan não acreditava. Por ora deixaria passar, mas ainda arrancaria dela uma resposta coerente.
O vento assobiou em seu ouvido, como se quisesse contar-lhe segredos irreveláveis. Moscas e abelhas fofocavam por entre as flores nos túmulos.  Renan nunca gostou de cemitérios.  O cheiro adocicado dos túmulos,  azedava sua alma. Queria sair dali logo.  Sem muito esforço,  ajudou Catherine a se levantar e trilharam o caminho de volta,  cada um preso em seus próprios pensamentos.
Com muito custo e algumas chantagens por parte de Renan,  Catherine explicou para o professor de economia o motivo de haver faltado a aula. Vendo suas mãos,  não havia dúvidas de que ela estava incapacitada de pegar em uma caneta. O professor lhe deu dez dias,  remarcando nova prova, especialmente para ela. Para isso , ela teria que apresentar um atestado, assinado pelo médico da Universidade.  Essa norma , evitava que os alunos comprassem documentos falsos , com intuito de matar aula.
Quando saíam da clínica,  localizada no primeiro andar do prédio próximo ao ginásio de esportes a uns vinte metros da capela,  um furacão ambulante os interrompeu fazendo com que Catherine pulasse para o lado de cara amarrada.
- Renan! Por onde você andou? Estou te procurando há horas. - Eloise , sem a menor inibição agarrou o braço dele possessivamente.  Detestava vê-lo perto da amiga. Eles já moravam juntos, não tinham por que ficarem juntos na escola também.
- Estive ocupado.  - essa foi a única resposta de Renan.  Não era necessário que Eloise ficasse a par do que acontecera. Catherine,  em um raro momento,  olhou-o com gratidão.
- Se vocês me dão licença,  tenho que ir.  - saiu apressada sem olhar para trás.
- Que garota mal humorada! - Eloise deu língua para as costas de Catherine e voltou-se toda melosa para Renan.
- Acho que me ferrei na prova hoje. Queria saber se você pode me dar umas aulas.
- Quando quiser.  Só marcar e me avisar. - Renan não tirou os olhos de Catherine até ela sumir em seu campo de visão.
Eloise reparou na falta de interesse dele para com ela e resolveu arriscar.
- Que tal começarmos neste sábado,  em sua casa? Prometo que vou me comportar.
Também tenho saudades de seus tios. Faz tempo que não vou "brincar" com Cath. Sabe , sinto muita falta de minha melhor amiga.
- Vou perguntar a meus tios. Depois te ligo.
Um sorriso radiante e travesso surgiu na face da garota.  Essa seria sua chance de passar mais tempo com Renan e afastar Catherine dele. A amizade das duas já tinha se defasado há muito tempo atrás,  mas isso não a impediria de conquistar sua nova paixão.
O sábado chegou carregado de incertezas.  Renan estava inseguro de haver aceitado o pedido de Eloise para estudarem juntos e Catherine não ajudou muito.  Apesar de dizer-lhe que não se importava, seus olhos negavam o que sua linda boca cuspia. Seus tios ficaram muito animados. Sentiam saudades da jovialidade de Eloise e como sempre, enxeram a despensa de guloseimas.
Renan tinha uma leve desconfiança de que os tios queriam engordá-lo.  Eles eram ótimas pessoas e Renan já se sentia como um filho.  Seu pai devia ter vivenciado uma infância de muito carinho e atenção.  A única exceção era Catherine.  Renan já se perguntara se a garota não fora adotada.
O toque da campainha veio tirar-lhe de seus devaneios.  Eloise estava muito sorridente e arrumada demais para a ocasião.  Trajava um tubinho sem alças  vermelho sangue sandálias de salto médio. Seu look era completado por argolas grandes e douradas  , um cordão fininho de duas voltas e uma bolsa de camurça preta de lantejoulas rubis. Prendera os cabelos em um coque frouxo , deixando alguns fios soltos caírem sobre as laterais da face.  A intenção era clara para uma pessoa perspicaz.  Eloise era a imagem da sedução.
Renan engoliu em seco.  Aquele sábado prometia ser intenso. Um arrepio subiu-lhe pela espinha alojando-se tal qual um punhal em sua nuca.  Ele sabia que Catherine estava descendo as escadas antes mesmo que ela desse o primeiro passo.  Seu sexto sentido ou seja lá o que vinha acontecendo com ele ,  solicitava cautela.
- Então você chegou. - Catherine olhou-a com um misto de reprovação e ciúmes.  Ainda não havia se trocado. Usava um roupão felpudo de capuz e orelhas de panda que caíra , displicente de sua cabeça.  Os cabelos rubros, ainda úmidos , escorriam soltos pelos ombros . As pantufas também de panda abafavam seus passos. Por isso ninguém a ouvira.
Renan não conseguia desgrudar os olhos de Catherine.  Sentia-se como se estivesse hipnotizado.  Eloise reparou em sua expressão embasbacada e o puxou pelo braço até a copa, onde os tios chamavam para tomarem o café da manhã.
Catherine sentou-se , pegou uma torrada,  passou geleia de damasco,  sua preferida e ficou bebericando seu café na xícara de porcelana que sua mãe colocara na mesa para aquela ocasião.  Como se estivesse recebendo uma visita ilustre.  Mal sabia ela que Eloise era tudo , menos alguém que deveria receber tal atenção.
- Eloise,  querida,  sentimos sua falta.  Faz muito tempo que não vem nos visitar.  -  a mãe de Catherine a repreendeu suavemente.
_ Desculpas tia. Prometo que de hoje em diante,  virei todos os sábados e talvez se a senhora não achar inconveniente,  poderei passar um fim de semana inteiro com vocês. Aí poderemos colocar o papo em dia.
- Seria ótimo!  Venha sempre que desejar.  Sinta-se em casa.
- Obrigada.  Sempre gostei muito dessa casa e de todos vocês.
- Meu maior desejo é que Cath tenha em você uma amiga e confidente. Não é bom ficar muito sozinha.
- Concordo.  De minha parte,  farei de tudo para estreitar nosso relacionamento.
Eloise e Catherine se encararam , uma fuzilando a outra como se estivessem em um ringue de box. O prêmio era óbvio para as duas. Que vencesse a melhor.
Catherine bufou e teve vontade de jogar seu café naquela máscara de falsidade.
Aquela garota estava brincando com a pessoa errada e Catherine não ia deixar por menos.

Continua...

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